Leilão Only Watch, que levanta recursos para a pesquisa sobre distrofia muscular de Duchenne, atrai fabricantes com relógios que podem chegar a R$ 142 milhões
Todo mundo sabe que há muito dinheiro circulando na indústria de relógios de luxo, mas existe um fato interessante: desde 2005, 108 marcas arrecadaram coletivamente 100 milhões de francos suíços (US$112 milhões) para beneficiar a pesquisa sobre distrofia muscular de Duchenne (DMD). Eles conseguiram isso doando relógios únicos para o leilão bienal Only Watch, idealizado em 2001 por Luc Pettavino, cujo filho havia acabado de ser diagnosticado com a doença na época.
O primeiro leilão foi realizado em 2005, em um pequeno salão na Monaco Yacht Show (da qual Pettavino era o CEO há muitos anos). Alguns dos 34 relógios foram comprados pelo próprio Pettavino. Outros foram adquiridos por Albert II, Príncipe de Mônaco, que é patrono desde o início.
A ideia pegou. O Only Watch tem sido realizado em Genebra há vários anos, e uma casa de leilões doa seus serviços para a venda – neste ano, a Christie’s conduz o leilão.
Por um tempo, o Only Watch foi realizado em uma sala de eventos no Four Seasons Hotel des Bergues, na cidade suíça, com capacidade para pouco menos de 400 pessoas. O último leilão, em 2021, foi frequentado por 900 pessoas em um salão no Palexpo, o centro de convenções de Genebra. Ele arrecadou 30 milhões de francos. A venda deste ano, programada para 5 de novembro no Palexpo, terá capacidade limitada a 1.000 pessoas, incluindo colecionadores, jornalistas e os titãs da indústria relojoeira suíça.
O evento é um local cada vez mais importante para exibições relojoeiras, no qual as marcas competem para superar umas às outras, tanto em termos de criatividade quanto de mecânica, além de fortalecer sua imagem ao alcançar os preços mais altos já pagos por relógios de suas marcas.
A sessão de 2019 quebrou o recorde para um relógio de pulso: US$ 31 milhões (aproximadamente R$ 148,2 milhões em valores atuais) por um modelo da linha Grandmaster Chime, da Patek Philippe.
“Tem sido como uma caminhada em que alguns de nós começamos juntos dizendo: ‘Ok, vamos nos encontrar no estacionamento no domingo e simplesmente vamos fazer uma caminhada agradável até o lago’”, diz Pettavino. “E você acaba escalando uma montanha juntos. É o Montblanc. E, de repente, somos mil pessoas.”
O filho de Pettavino, Paul, foi diagnosticado com DMD em 2000, aos 4 anos de idade. É uma doença muscular degenerativa incurável que afeta um em cada 5.000 homens ao nascer. Os afetados normalmente ficam confinados a uma cadeira de rodas aos 12 anos. Aos 21, a maioria está paralisada do pescoço para baixo. O resultado final é sempre o mesmo. A maioria não vive além dos 20 anos. Paul faleceu em 2016, aos 21 anos.
Sua filha, Tess Pettavino, agora administra a instituição de caridade para a qual 99% dos rendimentos do leilão são direcionados, a Association Monégasque contre les Myopathies. Como resultado das pesquisas financiadas pelos leilões, os ensaios clínicos acabaram de começar em uma terapia promissora.