A cineasta que coleciona projetos premiados como o recente vencedor do Emmy “Poisoned”, foi uma das editoras do viral da Netflix e conta como faz para não se abalar pelos depoimentos impressionantes que passaram pela edição antes de chegar ao streaming
Após um forte movimento nas redes sociais, a história de um dos crimes mais famosos e hediondos dos Estados Unidos, ocorrido nos anos 90, voltou a provocar debate. O impacto foi tão grande que os irmãos Menéndez ganharam a série “Monstros” e em seguida, o documentário “O Caso dos Irmãos Menéndez”, que estreou em outubro na Netflix e logo conquistou a atenção do mundo todo. No time que produziu o documentário – precisamente na edição -, a brasileira Fernanda Schein, cineasta premiada na cena independente, fala sobre o processo de revisitar esse enredo.
Antes da crescente que inclui até mesmo pedidos de celebridades pela soltura dos irmãos que assassinaram os pais, o caso não ultrapassava muito a barreira dos Estados Unidos e esse foi um dos motivos pelos quais Fernanda foi escolhida para o trabalho.
“Apesar de ser uma história muito conhecida na Califórnia, era algo particular daqui, então eu ainda não conhecia e foi uma abordagem intencional da produção, assim como o brilhante diretor argentino Alejandro Hartmann. Eles gostariam que a série fosse contada por um olhar não americano, porque foi algo saturado pela perspectiva deles”, conta a cineasta.
O despertar para o caso se deve a mudança da sociedade. De acordo com o depoimento dos Menéndez, os irmãos sofriam abusos constantes e por isso, planejaram o assassinato.
“Acredito que parte do sucesso do projeto é por despertar a discussão em relação a como cada pessoa reagiria ao abuso sexual, que agora está sendo provado que na época não foi levado em consideração”, afirma a cineasta. “Essa foi a parte mais interessante em participar, editar uma história que pode ter impacto no futuro”.
Para Fernanda, assim como clama o público, a sentença deve ser revista. “Eles têm que pagar pelo crime. No entanto, não com prisão perpétua, como está sendo. Não levaram em consideração que o crime foi premeditado em consequência de uma série de abusos que os levaram a acreditar que estavam sob ameaça. Nós evoluímos como sociedade e isso deve ser revisto”.
Já com outro true crime engatilhado, “O Caso dos Irmãos Menendez” foi o primeiro documentário desse gênero de Fernanda, que desenvolveu estratégias para não se abalar psicologicamente com a história.
“Quando comecei, estava um pouco ansiosa, porque sou uma pessoa impressionada. Mas eu vi tanto propósito na história, que quis fazer. No início, mexe bastante com a gente, mas depois nós ficamos um pouco dessensibilizados para o material físico que está na nossa frente”.
Filha de médico, ela conta que pensava no que o pai passava na profissão para se manter fria. “Nas primeiras vezes que um médico vê alguém machucado ou com muita dor, deve pegar muito no emocional, mas à medida que ele vai se profissionalizando, ele separa esse emocional para usar 100% do intelecto para ajudar a pessoa”.
Além do sucesso do documentário, 2024 foi um ano estrelado para Schein. Isto porque “Poisoned”, também da Netflix, conquistou um Emmy. “Foi uma surpresa muito boa. Era uma equipe menor, um orçamento controlado, então foi muito legal ver o que dá para conquistar mesmo sem tantos recursos”.
Já entre os curtas, espaço em que Fernanda coleciona prêmios, a cineasta acaba de estrear “Escadaria do Amor” no LABRFF, festival de cinema brasileiro em Los Angeles. O projeto foi filmado no Rio de Janeiro e lotou a sala de cinema na exibição. Segundo a editora, em breve chegará ao Brasil.
Além disso, a editora integra o time do curta “Caviar Star”, thriller psicológico sobre a industria artística com Marco Pigossi e Alice Marcone, ainda sem previsão de estreia.
Morando em Los Angeles desde 2014, a gaúcha se jogou na capital mundial do cinema e se consagrou tanto em projetos internacionais quanto nacionais, como “Neymar: O Caos Perfeito” (Netflix), e pretende continuar no caminho dos documentários, mas também se aventurar em uma nova empreitada.
“Estou trabalhando em um novo documentário sobre ativismo e direito dos animais. Então meu foco é seguir editando documentários, mas também quero fazer uma série de televisão. Vamos ver o que o futuro me reserva, mas seria uma oportunidade incrível”, conclui.