O esquema comandado por Saul Klein ia além de abusar sexualmente de meninas, afirma o procurador do Trabalho Gustavo Tenório Accioly: era montado para traficar, enganar e fazer reféns. Esse foi o entendimento que levou o MPT (Ministério Público do Trabalho) a entrar, na terça-feira (18), com uma ação civil pública contra o empresário, filho de Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, pelo crime de “tráfico de pessoas para submissão a condições análogas às de escravo, com trabalhos de natureza sexual”.
Segundo o procurador, ficou comprovado pelas investigações que as garotas —com idades a partir de 16 anos e em “situação de completa vulnerabilidade”— tinham celulares confiscados, eram submetidas a restrições alimentares e cercadas de seguranças armados.
“Tentei ver a linha genética desse caso”, afirma Accioly em entrevista exclusiva a Universa, referindo-se ao fato de o pai de Saul também ser acusado de violência sexual contra adolescentes e crianças.
Infelizmente, há um pilar de dominação do homem contra a mulher que temos que destruir. Precisamos acabar com o machismo, o coronelismo, o tráfico de pessoas. É esse o objetivo da ação Gustavo Tenório Accioly, procurador que assina ação contra Saul Klein.
Ele diz que o “sistema patriarcal” e a “cultura do estupro” levam à culpabilização da vítima, acusada de ter “se entregado” à situação com Saul, que lhes pagava quantias de até R$ 3 mil para participar de eventos ou passar um final de semana com ele.
O valor da indenização pedida pelo órgão é de R$ 80 milhões, calculado com base em investimento feito por Saul em um time de futebol. “Ninguém sabe o patrimônio dele, a gente não acha o dinheiro”, diz. Caso a Justiça condene o réu, a verba deverá ser destinada a programas voltados para mulheres sobreviventes de violência.