DF vira destaque da Indústria Criativa e desafia queda no emprego local

Mesmo com retração geral dos postos de trabalho em Brasília, setor criativo cresce quase 10% em 2023, constata estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

Em um cenário de retração de 3,9% nos empregos formais da capital federal, os chamados “empregos criativos” cresceram 9,8%, consolidando o DF como uma das principais referências criativas do país, de acordo com dados inéditos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

As informações fazem parte do Mapeamento da Indústria Criativa 2025, estudo produzido a partir da análise da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). O ano de 2023 é a base mais atualizada fornecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Júlia Zardo, gerente de Ambientes de Inovação da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e coordenadora da pesquisa

O levantamento da Firjan, que leva em conta tanto a produção econômica quanto a geração de empregos formais, revela um protagonismo que coloca o DF como o maior polo criativo fora do eixo Rio–São Paulo. Em termos proporcionais, tem a maior participação de empresas criativas entre os empregadores: 3,1% dos estabelecimentos formais do DF fazem parte do setor, ante 2,3% na média nacional.

PIB Criativo: Brasília entre os grandes

O dado talvez mais expressivo está na geração de riqueza. O Produto Interno Bruto (PIB) Criativo do Distrito Federal já responde por 4,9% do total da economia local, terceiro maior percentual do país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Isso representa cerca de R$ 19 bilhões movimentados em atividades criativas — da tecnologia ao design, da publicidade à moda.
 

Apesar de ocupar apenas o 11º lugar em número absoluto de empresas criativas (2,4 mil), o ritmo de crescimento em 2023 (7,6%) superou a média brasileira (5,5%), reforçando a pujança do setor.
 

Mão de obra qualificada e tecnologia como motores

Conforme o Mapeamento, o Distrito Federal encerrou 2023 com 34 mil empregos criativos formais, sendo a 8ª unidade da federação com maior número de trabalhadores na área. E se o número absoluto impressiona, a qualidade e a composição desses postos de trabalho dizem ainda mais.
 

O Mapeamento da Indústria Criativa 2025 contém a análise dos 13 segmentos da Indústria Criativa separados em quatro grandes áreas: Consumo (Design, Arquitetura, Moda e Publicidade & Marketing), Mídia (Editorial e Audiovisual), Cultura (Patrimônio & Artes, Música, Artes Cênicas e Expressões Culturais) e Tecnologia (P&D, Biotecnologia e TIC). 
 

Na Capital Federal, a área de Tecnologia lidera, com 43,9% dos empregos criativos. Segmentos como Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) foram os principais vetores de crescimento, empregando, cada um, cerca de 7 mil pessoas. O avanço nesses setores foi de 11,4% e 8,3%, respectivamente, muito acima da média nacional.
 

Já a área de Consumo, que inclui segmentos como Publicidade & Marketing, Arquitetura e Moda, representa 39,4% dos empregos. Destaque para Publicidade & Marketing, que sozinha concentra quase metade dos vínculos da área e cresceu 17,5% em um ano.
 

A área de Mídia, que responde por 11,4% dos empregos criativos no DF, também surpreende: o segmento audiovisual avançou 16,1%, enquanto o editorial cresceu 7%, ambos acima da média nacional. A área de Cultura, com 5,4% dos empregos, permanece mais modesto, com destaque para Expressões Culturais e Patrimônio &Artes.
 

Profissões criativas: o perfil da força de trabalho

Das 34 mil vagas criativas no DF, quase metade está concentrada em apenas cinco profissões: programadores e desenvolvedores, pesquisadores, engenheiros de P&D, engenheiros civis e analistas de negócios. O perfil dominante combina alta qualificação, formação técnica e proximidade com setores de inovação.
 

Brasília, cidade criativa?

A centralidade política do DF também ajuda a explicar o dinamismo do setor, especialmente na área de Mídia, onde a profissão de jornalista aparece entre as mais empregadas — algo incomum em outros estados. A presença maciça de instituições públicas, organismos internacionais e organizações não governamentais cria um ecossistema propício à produção de conteúdo, assessoria e tecnologia da informação.

Enquanto isso, o contraste com a média nacional chama atenção. No Brasil, os empregos criativos ainda se concentram na área de Consumo, como publicidade e arquitetura. No DF, a tecnologia já é o principal motor do setor.
 

De forma geral, a Indústria Criativa impulsiona economia brasileira como um todo e já representa 3,59% do PIB brasileiro, o que equivale a R$ 393,3 bilhões, destaca o levantamento. O crescimento dos empregos formais no setor já supera a marca de 1,26 milhão de profissionais no Brasil.
 

“A mudança estrutural vista na economia brasileira, resulta do fortalecimento contínuo do mercado criativo, monitorado desde 2008 pelo Mapeamento. Nesse mercado, inovação, propriedade intelectual e valor da criatividade são pilares da expansão. A pandemia acelerou a digitalização e a adoção de novas tecnologias, impulsionando ainda mais o setor”, explica Julia Zardo, gerente de Ambientes de Inovação da Firjan e coordenadora do estudo.
 

Além dos dados publicados no estudo, informações poderão ser combinadas e customizadas no Painel de Dados disponibilizado no site do Observatório da Indústria (observatorio.firjan.com.br/industriacriativa), permitindo analisar a Indústria Criativa do país sob diversos ângulos, como a cadeia produtiva, os profissionais criativos e os segmentos variados dessa indústria heterogênea. Além disso, é possível obter uma visão detalhada das 27 Unidades Federativas e dos mais de cinco mil municípios brasileiros, contemplando suas realidades distintas.