Checamos a entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional

Primeiro entrevistado na sequência de encontros do Jornal Nacional com presidenciáveis, o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), disse nesta segunda-feira (22) que não “xingou” ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), o que é falso. Bolsonaro também mentiu ao dizer que o governo federal agiu rapidamente para conter a onda de casos e mortes por Covid-19 em Manaus. Aos Fatos está checando em tempo real as declarações do presidente ao programa da TV Globo.

As análises são publicadas à medida que as apurações, conduzidas por repórteres e editores, ficam prontas. O conteúdo publicado pode ser modificado nas horas seguintes ao programa para inclusão de informações. Aos Fatos está aberto a contestações da assessoria de imprensa do candidato e registrará o outro lado caso necessário.

“Você não está falando a verdade quando fala em xingar ministro. Isso não existe.”

É FALSA a afirmação de que Bolsonaro nunca xingou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Aos Fatos identificou xingamentos a pelo menos dois magistrados: Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Durante a manifestação do dia 7 de setembro de 2021, o presidente chamou Moraes de “canalha”. O xingamento foi repetido em julho de 2022 após o ministro prorrogar o inquérito que investiga as milícias digitais. Em relação a Barroso, Bolsonaro se referiu ao magistrado como “filho da puta” no dia 6 de agosto de 2021. Dias antes, ele já havia chamado o ministro de “criminoso” e “mentiroso” por suas posições contra o voto impresso.

Fontes: Poder 360 e UOL

“Menos de 48h cilindros começaram a chegar em Manaus”

O então governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), alertou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello que a falta de cilindros de oxigênio em Manaus era grave no dia 6 de janeiro de 2021. A distribuição efetiva de cilindros e a transferência dos doentes para outros hospitais ocorreu apenas a partir do dia 14, quando a crise ganhou projeção nacional. Dias antes, em 11 de janeiro, Pazuello esteve na cidade e promoveu o uso de medicamentos ineficazes contra a Covid-19.

Fontes: Aos Fatos e Folha de S.Paulo

“Nova York que fala isso aí…[que mais pessoas foram infectadas pela Covid-19 em casa]”

Bolsonaro distorce informações de uma apresentação feita em 6 de maio de 2020 pelo então governador de Nova York, Andrew Cuomo. Na ocasião, Cuomo afirmou que 84% de um grupo de 1.289 recém-internados em hospitais do estado declararam que, antes de contraírem a Covid-19, evitavam sair de casa cotidianamente. O dado, contudo, não indica onde essas infecções aconteceram. Além disso, o governador não usou os números da apresentação para negar a eficácia do distanciamento social no estado, mas para reforçar a orientação de que mesmo quem estava em isolamento deveria se precaver.

Fontes: Aos Fatos e Governo de NY

“O trabalho essencial, eu falei: deve ser todo aquele necessário para o homem ou a mulher levar o pão para dentro de casa. A própria OMS concordou comigo naquela questão.”

Bolsonaro distorce uma declaração dada pelo diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Ghebreyesus, sobre medidas restritivas durante a pandemia. Em 30 de março de 2020, Ghebreyesus afirmou que os governantes deveriam considerar os impactos sociais e econômicos do confinamento sobre os mais pobres, e ponderou a necessidade de cada país encontrar soluções para evitar que parte da população ficasse desassistida. Em nenhum momento, no entanto, o executivo defendeu o fim ou o relaxamento das medidas de restrição de atividades. Bolsonaro já repetiu essa alegação falsa ao menos 15 vezes.

Fontes: Aos Fatos e Twitter Tedros Ghebreyesus

“Eu não errei nada do que eu falei [sobre a pandemia]”

Ao longo da pandemia de Covid-19, Bolsonaro deu várias declarações que se provaram erradas sobre a gravidade da doença, as medidas de proteção e a eficácia das vacinas. Ele defendeu o uso de medicamentos que não se mostraram eficazes contra a doença, como a hidroxicloroquina e a ivermectina. O presidente também foi contra o uso de máscaras e a adoção do isolamento social, medidas que a ciência demonstrou serem eficientes para conter a transmissão do vírus. O mandatário ainda afirmou diversas vezes que as vacinas aprovadas para uso no Brasil eram experimentais. Todos os imunizantes aplicados no país passaram por três fases de testes, quando tiveram segurança e eficácia comprovadas.

Fonte: Aos Fatos

“A Amazônia é do tamanho da Europa Ocidental”

Na realidade, a área ocupada pela Amazônia Legal (5 milhões de km²) é bastante superior à da Europa Ocidental (cerca de 1 milhão de km²). 

Fontes: Aos Fatos e IBGE

“Eu não aceitei pressões de lugar nenhum para escalar ministros”

Acordos com a bancada ruralista fizeram com que Tereza Cristina (PP-MS) se tornasse ministra da Agricultura, e Ricardo Salles (PL-SP), do Meio Ambiente. A bancada evangélica emplacou Damares Alves (Republicanos-DF), que é pastora, no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Em meados de 2020, para se aproximar dos partidos do Centrão, Bolsonaro nomeou Fábio Faria (PP-RN) para as Comunicações. Em 2021, trouxe Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil e João Roma (PL-BA) para a pasta da Cidadania.

Fonte: Aos Fatos

“Como que você diz que [as urnas] são auditáveis, se em 2014 não aconteceu isso?”

É FALSO que não seja possível fazer auditoria nas eleições brasileiras. A Justiça Eleitoral permite que os sistemas de votação sejam requisitados para análise e verificação a qualquer momento. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é possível fazer auditorias antes e depois da eleição, dos códigos-fonte do sistema da urna eletrônica e da votação, por meio dos boletins de urna, que neste ano serão divulgados na internet no mesmo dia da apuração. As máquinas têm elementos que possibilitam a auditoria eletrônica: o Registro Digital do Voto, que tem a função de recuperar os sufrágios para recontagem eletrônica, caso seja necessário, e o log da urna eletrônica, arquivo do registro cronológico de todas as operações realizadas pelo software da máquina. Para embasar a alegação falsa, Bolsonaro usa o resultado de uma auditoria solicitada pelo PSDB, em 2014, para averiguar o resultado da eleição presidencial daquele ano, que concluiu não ter havido fraude.

Fontes: TSE 1TSE 2 e TSE 3

“Diferente de 2014 e 2015, que tivemos uma perda de quase 3 milhões de empregos no Brasil.’

É FALSO que o Brasil tenha perdido quase 3 milhões de empregos entre 2014 e 2015, no governo Dilma Rousseff (PT). Segundo o Rais (Anuário Estatístico da Relação Anual das Informações Sociais), do Ministério do Trabalho e Previdência, o saldo de carteiras assinadas nos anos citados foi, respectivamente, positivo em 623.077 vagas e negativo em 1.510.703. Logo, ao longo de 2014 e 2015, foram perdidos 887.626 postos de trabalho, não 3 milhões, como afirmou Bolsonaro.

Fonte: Rais

“Nós pegamos 2020, 2021, e tivemos um saldo positivo de quase 3 milhões de empregos no Brasil.”

Segundo os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência, foram geradas 2.771.628 vagas de trabalho no mercado formal em 2021. Em 2020, no entanto, não houve saldo positivo: foram fechados 192.746 postos. Foram criados no total, portanto, 2.578.882 milhões de empregos, um número menor do que o citado por Bolsonaro.

Fontes: Aos Fatos

“Criamos o Pix tirando dinheiro de banqueiros’

O Pix foi lançado durante o governo Bolsonaro, em novembro de 2020, mas a sua criação remonta a 2016, quando esse método de pagamento foi anunciado e começou a ser desenvolvido pelo BC (Banco Central). Na época, o presidente era Michel Temer (MDB). Além disso, não é possível atestar que o Pix tirou dinheiro dos bancos. Apesar de terem deixado de arrecadar com tarifas de transações como DOC e TED, o lucro das instituições não parou de crescer. Em 2021, os quatro maiores bancos do país lucraram R$ 81,63 bilhões, o maior valor nominal registrado desde 2006 e o quarto maior em números corrigidos pela inflação. O lucro do primeiro trimestre de 2022 também aponta tendência de alta.

Fontes: Aos Fatos e UOL