Políticas públicas implementadas recentemente e período de chuvas estão entre as hipóteses para a redução. Tocantins, Piauí, Bahia e Maranhão, estados pertencentes ao chamado MATOPIBA, foram os que mais perderam vegetação nativa no primeiro mês do ano. O município de Cotegipe, no oeste baiano, liderou o ranking de municípios com maior área desmatada
Foram desmatados 51 mil hectares de vegetação nativa do Cerrado no mês de janeiro de 2024, 48% a menos do que em dezembro de 2023. A área desmatada no primeiro mês de 2024 foi a menor detectada nos últimos 11 meses. Dados foram divulgados nesta semana pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Para as especialistas do instituto, a desaceleração no desmatamento pode ser explicada, em parte, pela implementação de políticas públicas e pela chuva intensa que cai na região, que afetam a detecção de novas áreas abertas. As cientistas também destacam que os esforços pela preservação do Cerrado devem acompanhar as políticas federais para a Amazônia.
“Essa diminuição na área de desmatamento detectada pode ser explicada em parte por políticas públicas implementadas recentemente no bioma. Apesar da redução neste mês, ainda não podemos afirmar se o desmatamento está de fato diminuindo em 2024. Estamos passando pelo período de chuvas no bioma, o que dificulta a detecção de alertas devido a alta cobertura de nuvens nessa época do ano. É necessário que os esforços do governo para combate e controle do desmatamento estejam agora voltados para o Cerrado, assim como foram voltados para a Amazônia no ano passado”, comenta Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM e coordenadora do SAD Cerrado.
Apesar do bom resultado, o primeiro mês de 2024 registrou uma área desmatada 10% maior do que em janeiro de 2023, quando foram derrubados 46 mil hectares. A dominância do Matopiba – fronteira agrícola composta por partes dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – também se manteve: 64% de todo o desmatamento de janeiro ocorreu na região, totalizando 33 mil hectares perdidos.
Estados – No Tocantins, líder do ranking em janeiro, foram desmatados 10 mil hectares, 40% a mais do que o registrado em janeiro de 2023. No Piauí, em seguida, também foram perdidos cerca de 10 mil hectares de vegetação nativa. O estado registrou uma área desmatada similar ao primeiro mês de 2023, quando também foram desmatados 10 mil hectares. A terceira posição foi ocupada pela Bahia, que além de ter quatro dos dez municípios que mais desmataram em janeiro, perdeu 9 mil hectares de Cerrado, 2% a menos do que em janeiro passado.
Fora do Matopiba, Goiás registrou uma diminuição na área desmatada. A área desmatada no estado passou de 4,5 mil hectares em janeiro de 2023 para 3,5 mil em 2024, totalizando uma redução de 22%. Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, no entanto, aumentaram a derrubada do Cerrado e somaram, juntos, 8 mil hectares perdidos, um aumento de 23% em relação ao que derrubaram em janeiro de 2023.
Municípios – O município de Cotegipe, no oeste baiano, foi o líder do desmatamento em janeiro, com cerca de 2 mil hectares perdidos, um aumento de 224% em relação à área de vegetação nativa perdida em dezembro do ano anterior. O município não havia figurado entre os maiores desmatadores do Cerrado em 2023.
Ao todo, foram detectados 31 alertas de supressão de vegetação nativa em Cotegipe, colocando sua média de desmatamento em 64 hectares para cada alerta, considerada elevada pelas pesquisadoras do SAD Cerrado. Além disso, 99% dos alertas detectados neste município, que possui 13 mil habitantes, foram registrados em áreas com cadastro ambiental rural privado.
“Esse mês observamos uma migração do desmatamento para municípios da região do oeste da Bahia onde antes não havíamos detectado grandes áreas desmatadas. Isso é um indicativo de que o desmatamento está expandindo para outros municípios da região, onde ainda existem grandes fragmentos de vegetação remanescente de Cerrado”, destaca Fernanda.
Padrão – Assim como no último mês, as áreas sem posse oumecanismos de governança definidos – os chamados “vazios fundiários” – foram a segunda categoria fundiária mais desmatada, correspondendo a 11% dos alertas. A categoria com mais alertas, no entanto, ainda foi a de áreas privadas, com mais de 74% da área derrubada, cerca de 38 mil hectares.
Outro destaque foram as áreas desmatadas em Unidades de Conservação, que responderam por 9% do desmatamento do Cerrado em janeiro, totalizando 5 mil hectares perdidos. As principais áreas protegidas atingidas foram aquelas localizadas no Matopiba, como o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba e a Área de Proteção Ambiental Serra da Ibiapaba, localizada nos estados do Piauí e Ceará.
SAD Cerrado – O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado é um projeto de monitoramento mensal e automático que utiliza imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia. O SAD Cerrado é uma ferramenta analítica que fornece alertas de supressão de vegetação nativa para todo o bioma, trazendo informações sobre desmatamento no bioma desde agosto de 2020.
A confirmação de um alerta de desmatamento é realizada a partir da identificação de ao menos dois registros da mesma área em datas diferentes, com intervalo mínimo de dois meses entre as imagens de satélite. O método é detalhado no site do SAD Cerrado .
Os relatórios de alertas para o mês de janeiro e períodos anteriores estão disponíveis neste link. No painel interativo, é possível selecionar estados, municípios, categorias fundiárias e o intervalo temporal para análise.
O objetivo do sistema é fornecer alertas de desmatamentos maiores de um hectare, atualizados mês a mês. Pesquisadores entendem que o SAD Cerrado constitui uma ferramenta complementar a outros sistemas de alerta de desmatamento no bioma, como o DETER Cerrado, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), otimizando o processo de detecção em contextos visualmente complexos.
Para acessar os dados georreferenciados, basta clicar aqui.