Bolsonaro diz que esquerda orquestrou 8 de janeiro e chama processo de “fumaça de golpe”

Ex-presidente reuniu aliados na Avenida Paulista em ato contra julgamentos no STF; público foi o menor desde início das manifestações

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a público neste domingo (29), em uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, para contestar os julgamentos de seus aliados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e rebater as acusações que enfrenta por tentativa de golpe de Estado. Em discurso, ele atribuiu os atos golpistas do 8 de janeiro de 2023 à “esquerda” e classificou o processo contra ele como baseado em uma “fumaça de golpe”.

Com o mote “Justiça Já”, o ato foi o sexto desde que Bolsonaro deixou o Planalto, e o de menor adesão: cerca de 12,4 mil pessoas, segundo levantamento do Monitor USP. A presença ficou aquém de eventos anteriores, refletindo um possível desgaste político diante das investigações que avançam no Judiciário.


“Transição pacífica”, diz Bolsonaro

Ao lado de nomes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e parlamentares da base bolsonarista, o ex-presidente tentou desmontar a narrativa de que teria planejado um golpe após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.

“Quem quer dar golpe nomeia comandantes das Forças a pedido do adversário?”, questionou Bolsonaro. Ele relembrou que, ainda em dezembro de 2022, indicou chefes das Forças Armadas a pedido de Lula, em um gesto que chamou de “transição pacífica”, elogiada até por Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente.

Bolsonaro também citou entrevista do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, como prova de que não houve uma tentativa concreta de golpe no dia 8 de janeiro. “Ele mesmo disse que não viu movimentação golpista”, afirmou.


Ausência da faixa e novo tom político

No discurso, Bolsonaro voltou a justificar sua ida aos Estados Unidos no fim de 2022, pouco antes da posse de Lula. Segundo ele, a viagem não foi apenas para evitar a cerimônia de transmissão da faixa presidencial.

“Algo me fez sair do Brasil. Jamais eu passaria a faixa para um ladrão”, declarou, sem citar diretamente o presidente Lula, mas reforçando o tom de embate político que tem marcado sua retórica desde a derrota nas urnas.


STF segue com investigações

O Supremo Tribunal Federal analisa se Bolsonaro participou da articulação para desacreditar o sistema eleitoral e para incitar militares e civis contra os Poderes da República. Ele é investigado no inquérito que apura a tentativa de golpe e os atos do 8 de janeiro, quando extremistas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.

Nos bastidores, aliados admitem preocupação com os desdobramentos jurídicos. Bolsonaro, que está inelegível até 2030, busca manter visibilidade pública e coesão política em torno de seu nome — ainda forte entre segmentos expressivos da direita brasileira.